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O desligamento da autoridade dos pais


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Felipe é um jovem de 18 anos, baixinho, barba cerrada, cabelo ralo, um andar meio desengonçado e um tom de voz ainda em mudanças, típico de uma adolescente. Procurou análise por conta própria. Sentia-se confuso e deprimido, não conseguia seguir seu curso universitário e nem ter uma namorada. Relata uma relação muito turbulenta com a sua mãe, que é descrita como muito intrusiva. O que o faz sentir-se “sufocado”. As figuras masculinas próximas de Felipe são descritas como fracas e deprimidas, indicando uma dificuldade de identificação masculina, enquanto as figuras femininas são fortes e fálicas, a exemplo da mãe. Durante a análise Filipe foi se mostrando fóbico e enclausurado, com muito medo da dependência afetiva. Apresenta um sistema emocional militar que o aprisiona e o impede de encontrar maior liberdade interna.    Trecho de uma sessão: Chega pontualmente. Reclama do tempo: “Que dia feio! Lembra que te falei da minha dificuldade de escrever aquele relatório pra faculdade? Que fico com a cabeça cheia e não consigo me concentrar? Fiquei pensando como a análise é o único lugar que eu tenho que me ajuda a pensar em mim. Ando sem fazer nada de interessante para mim. Preciso criar no meu dia um tempo para isso, não só na análise... Eu me alieno da realidade, das minhas dificuldades. É sutil porque não é uma coisa que me tortura, tem algo de fascinante que me envolve, mas de repente me dou conta que é para não enfrentar minhas dificuldades, como na danceteria em que também me incomodava não conseguir dançar, mas eu dizia para mim mesmo – eu não gosto de dançar e colocava todas as dificuldades possíveis... dançar é uma coisa que me faz sentir vergonha... Quando penso isso, me sinto pequenininho, apetadp, eu me aprisiono de medo de não poder crescer, de ser mais que meu pai, de ser independente, de não poder ser homem... não sei... sábado fui almoçar com minha mãe, mas não era o que eu queria... Incomodou-me... por que eu não estava com uma namorada ou com  os meus amigos? A analista pergunta: - Será Filipe que essa relação assim tão próxima com sua mãe não te impede de deixar entrar um terceiro na sua vida? ... uma namorada ou um amigo... É que ela às vezes me convoca e eu acabo indo... Mas hoje, se eu tiver um programa, ela não vai mais fazer nenhuma sacanagem para eu não sair, como em outros tempos... queria estar com novas pessoas... não me enturmo com ninguém... com certeza tenho medo de me aproximar com mais intimidade de outras pessoas... A – Parece que você está me pedindo que eu te ajude a se aproximar da diversidade de sentimentos que existem dentro de você, para que todos eles possam bailar sem te enclausurar...
(Ana Maria S. Vannucchi, Maria Cecília P. da Silva, Alceu Roberto Casseb, Nilde J. P. Franch e Neyla Regina Ávila F. França. GRUPO DE DISCURSÃO: COMO TRABALHAR ANALITICAMENTE COM ADOLESCENTES NO SÉCULO XXI? São Paulo, 2005)  (Adaptado)

Bom, como havia prometido no último pôster, estou continuando nossa discursão levantada sobre o “desligamento da autoridade dos pais”. Sugiro para quem está lendo esse pôster e ainda não leu o anterior que volte lá pra dar uma contextualizada.
No ultimo pôster a nossa discursão girou em torno de termos e questões já “prontas”. Agora minha proposta é formular junto com vocês o nosso tema de discursão. E para tal, trouxe esse estudo de caso para analisarmos a questão do desligamento da autoridade dos pais e como ela se expressa de forma prática na vida do adolescente.
Filipe, o garoto do nosso estudo de caso vê-se com dificuldades de criar novos laços com terceiro por causa da “possessividade” da mãe. Que não “larga do pé do filho”. Criando ela os programas e o que o adolescente deve fazer em seus sábados a noite. O que dentro da nossa cultura é um momento para o jovem sair com os amigos ou namorada. Esse garoto também vê-se sem “saída” por não ter um referencial masculino, de um homem que tenha conseguido o que ele tanto quer. Ser livre, ser independente.
Como na vida de Filipe, o desligamento ainda não ocorreu esses conflitos encurralam o jovem. O que também como vimos não se limita ao campo das relações interpessoais, mas também no campo das suas intimidades. Não consegue encarar seus medos e receios, por exatamente não ter ainda essa independência.
O caso citado é bem particular. Nem todo mundo tem pais possessivos. Às vezes são exatamente o contrário, liberais demais. O que também não é bom. Os extremos nunca são campo confiáveis.
O que é fundamental nesse processo de desligamento é que o adolescente perceba a castração dos pais. Perceba que eles são falhos. Isso lhes dará “incentivo” para seguir adiante no processo de autonomia. Verá que suas ideias e formas de pensar apesar de algumas vezes, ou muitas, diferi da de seus pais, seres que outrora fora tido como os “Superes” da sua infância. Os caras mais inteligentes do mundo. Os mais altos e mais valentes. São como você, seres humanos. E como tais passiveis ao erro mas também ao acerto.
O ideal seria que todos os filhos tivessem pais “suficientemente bons” parafraseando Winnicott. Pais que lhe oferecessem apoio e sustentação. Aquele abraço apertado antes da tentativa. Aquele olhar afetuoso que diz “Você vai conseguir. E se não conseguir eu estarei aqui para te abraçar.” Resumindo tudo que o adolescente precisa é de Amor.
Mas infelizmente essa não é bem a realidade de muitos. E jeito e trejeitos são “inventados” nesse processo. Várias formas de fuga para suprir essa necessidade. Aí onde entra a busca por caminhos  ilícitos e que não são saudáveis. Levando o adolescente muitas vezes para um caminho sem volta.
Não existe receita. Não existe forma. Somos seres diversos, com fraquezas e pensamentos diferentes. Podemos até dizer muitas vezes que a única coisa em que nos assemelhamos é o fato de sermos humanos. Que possamos sempre  lembrarmos disso e nos ajudar. E assim descobrirmos que em nossas fraquezas podemos ser fortes. Compartilhando nossas experiências e esperanças.


Por: Yara Patrícia e Elitânia Silva






1 Comentário:

Unknown disse...

Belo texto, parabéns Yara Patrícia e Elitânia Silva

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