 |
Google Imagens |
Somos seres dotados de inteligência (mesmo que muitas vezes tendamos a desconfiar de tal afirmação). Acordamos, tomamos café, estudados, trabalhos e, assim, fazemos cumprir o ciclo diário da nossa existência. Somos acostumados a viver dentro de uma rotina agitada, sem muito tempo para conversas demoradas. Às vezes, pela pressa, não notamos que estamos deixando passar muitas coisas importantes diante dos nossos olhos. Já diria o velho ditado: "a pressa é a inimiga da perfeição" e digo mais, a pressa é um atalho que deu errado. Lenine em sua canção pede
um pouco mais de calma, porque a vida é tão rara. Martinho da Vila também cantou:
É devagar/ é devagar é /é devagar /é devagarinho é que a gente chega lá. Esses cantores souberam expressar em suas canções o valor da calma, das escolhas serenas, do parar e refletir sobre as coisas da vida. Falando nisso, como estamos vivenciando nossos afetos na presença de tantos meios tecnológicos ? Sobre esse questionamento, Zygmunt Bauman descreveu em seu livro "Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos" de forma simples e objetiva de como os meios virtuais estão influenciando na nossa maneira de criarmos afetos uns com os outros.
Quando se fala em amor liquido, não é difícil pensar em amor apressado, passageiro, sem qualquer conectividade (com toda ironia da palavra). Os relacionamentos vividos nesse meio virtual através das redes sociais, via telefone etc., como bem ressalta Bauman, são meios que as pessoas andam usando para evitar o sofrimento de um relacionamento falido, sem muitas expectativas, mas que por ter sido duradouro ainda vale a pena ser vivido de alguma maneira ou de outra. Em todo caso, evita-se o relacionar-se no campo convencional. O encanto das telas dos computadores, celulares, tablets e afins são, em grande maioria, os atrativos principais. As rodas de conversas, praças, lanchonetes e tantos outros lugares cada vez mais são substituídos por chats/whatsapp e SMS.
É notável que os afetos evoluíram com o tempo, de tal modo que até virtual se tornaram. Após uma atualização do Facebook, foi possível demonstrar através da linha do tempo a forma como estamos nos sentindo em determinado momento do nosso dia a dia. É como se não existisse mais a significância do desabafo. Por que ir na casa de uma amigo dizer que está se sentindo triste se através de uma tela de celular posso informar para os 'amigos' virtuais meu estado emocional? O clique é mais rápido. A conversa demora, leva tempo para compartilhar. Nesse trem bala que se tornou nossa vivência o que é essência se perde na pressa.
Em entrevista a
Isto é, Bauman ao ser perguntado o que caracteriza a "modernidade líquida" responde que:
Líquidos mudam de forma muito rapidamente, sob a menor pressão. Na verdade, são incapazes de manter a mesma forma por muito tempo. No atual estágio “líquido” da modernidade, os líquidos são deliberadamente impedidos de se solidificarem. A temperatura elevada — ou seja, o impulso de transgredir, de substituir, de acelerar a circulação de mercadorias rentáveis — não dá ao fluxo uma oportunidade de abrandar, nem o tempo necessário para condensar e solidificar-se em formas estáveis, com uma maior expectativa de vida.
O amor virtual se tornou um SPAM real. Spam é o termo usado para se referir aos e-mails não solicitados, que geralmente são enviados para um grande número de pessoas.(Cartilha de segurança para internet.)
Amores são distribuídos de forma espalhafatosa nas redes sociais, muitas vezes sem ser bem recebidos como as velhas correntes que são ignoradas. A necessidade berrante de espalhar "amor" por meios simbólicos como Facebook, Twitter, Tumblr etc., revela a lacuna do afeto humano que está tatuado em cada sujeito escravo do virtual. Os amores apressados não estão deixando marcas nos computadores, estão escancaradamente sendo desfigurados das relações dos indivíduos. A tecnologia contribuiu para adentrar nos campos mais distantes que possamos imaginar. Diminui distancias entre familiares e amigos, mas não pode ser e, tão pouco deve ser, prioridade nas nossas relações.
É preciso manter viva a relação do olho no olho, do aperto de mão e do abraço. De fato somos seres afetuosos. Em outros lugares nos chamam de acolhedores. Pessoas que gostam do calor humano. Devido a influência midiática, aos avanços da informática, acabamos sendo escravizados pelas máquinas. É nesse ponto que precisamos trabalhar. Já nos ensina o Pequeno Príncipe: " o essencial é invisível aos olhos." Os laços não podem ser perdidos, antes amarrado. Quando os valores são deixados de lado a ignorância toma conta do homem.
Sobre o Autor:
 |
Estudante de Psicologia da UNIFAVIP. Poeta nas madrugas, fã de Belchior, Game of Thrones e Fernando Pessoa. Sempre preciso dormir mais do que o necessário, caso contrário, meu humor passa a ser afetado. Frase favorita: "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." Fernando Pessoa. |
Cada vez mais a vida moderna tem se tornado virtual. A pressa a falta de tempo, as mudanças de prioridade na vida, vários fatores colaboram para esse fim. Mas nada pode substituir o real. O fato ainda precisa do toque, do calor, do acontecimento.
Postar um comentário
O blog é livre pra que todos possam comentar e contribuir com sua opinião,porém, algumas regras devem ser seguidas por questões de organização.
- Antes de comentar leia todo o texto publicado.
- Não usar palavras de baixo calão.
- Não comentar usando links de divulgação de outros blogs.
- Duvidas e recomendações de artigos,usar o formulário de contato.
Obrigado pela sua contribuição!
Comente a vontade!