Houve um tempo.
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Aos 8 anos de idade quem se importaria com o dia de amanhã? Eu comecei a me importar. Era um dia comum como todos os outros, eu estava em casa como de costume quando tudo aconteceu. Sem saber o que estava acontecendo,me pediram silêncio. Silêncio! Aquilo fazia parte da brincadeira. Toda criança gosta de brincar, não é? Eu não sabia o que era aquilo, eu não sabia o que dizer. Arrancaram meu equilíbrio e hoje eu não consigo mais esquecer todo a dor que me causaram. Esfaquearem meus sonhos. Hoje já não acredito mais em nada. Apagaram o brilho dos meus olhos. Aprisionaram minha vontade de sorrir. Me tocaram. Me fizeram me sentir a pior pessoa desse mundo. Destruíram o meu sono. Minhas fantasias, minha vontade de colorir à vida. O que foi que eu fiz pra merecer tudo isso? Eu só queria ter sido uma criança normal como todas as outras. Me usaram. Me pediram um silêncio que até hoje me destroi. Quantas vezes nos calamos por medo? Eu me calei. Calei minha vontade de gritar. Calei todos meus desejos. Carreguei esse fardo como um viajante solitário. Eu me tornei escuridão. Talvez as pessoas não entendam, não percebam o quanto aquilo me traumatizou, mas eu sei o que se passa aqui dentro. Muitos anos se passaram mas lembro como se fosse hoje. Eu chorava todos os dias. Meus pais não entendiam, meus amigos se afastaram e me tornei por muito tempo alguém sozinho. Eu sempre ouvia dizer que quem apanha nunca esquece. Eu não consegui esquecer.
Senti dificuldades pra me relacionar. Não conseguia fazer amigos, não conseguia amar outra pessoa. Aquilo me doía bastante. Eu não conseguia ser como as outras pessoas. Eu estava num barco em pleno alto mar enquanto a tempestade passava por mim. Eu estava só. Você já se sentiu só? Eu perdi a minha infância. Eu perdi a vontade de brincar. Eu sentia ódio das outras crianças. Como tudo aquilo mexeu comigo. Sonhava com aquela cena todos os dias e acordava desesperado. Chorava de medo e de angústia, tinha medo das pessoas. Eu pensei em tirar minha vida. Eu não estava aguentando mais viver com esse peso, com essa dor que me machucava dia e noite. Na escola fui maltratado, riram de mim como um palhaço num circo. Me bateram como um malfeitor. O que sobrou de mim foi a dor. O medo. O silêncio.
Ah, infância minha. Como te queria outra vez de volta. Como queria ainda estar correndo no quintal de casa. Como queria ter 8 anos outra vez e poder colorir todos os meus sonhos. Como eu queria poder não tá contando essa história nesse momento. Como eu queria contar as histórias dos livros que eu li. Como eu queria pode abraçar as pessoas sem medo. Ter feito bons amigos na infância e podê-los encontrá-los com seus filhos passeando por aí. Me doi poder dizer que não os tive. Enquanto o mundo lá fora brincava de bola de gude eu estive trancado por medo. Enquanto o mundo dormia eu permanecia acordado. A dor ainda continua. Na minha adolescência isso veio a piorar de uma forma drástica. Eu não sabia quem eu era. Eu não sabia ao certo o que eu tinha me tornado. Às pessoas me chamavam de estranho, eu realmente era estranho. Dos poucos amigos que eu fiz, poucos me compreendiam. Fui escanteado pela sociedade que me julgava de tudo que era de ruim. Eu era calado. Eu tinha medo de deixar as pessoas entrarem na minha vida e conhecerem a minha história. Eu machucava todos aqueles que se aproximavam de mim e aquilo me doía demais. Eu estava perdido. Eu me afastei da minha própria família. Dos meus pais que me amam. Até hoje choro ao lembrar que brincava com meu pai, esperava ele chegar do trabalho pra lhe dar um abraço. Até hoje eu choro ao ver as fotografias antigas. Aquilo mexeu de uma forma tão intensa comigo que eu perco as palavras só de pensar. Como isso me doi. Como essa realidade ainda me tortura. Eu tinha vergonha do meu próprio corpo. Evitava as praias, piscinas, tudo por vergonha do que eu era.
Não tenho mais 8 anos. Não sou mais inocente. Não tenho mais infância. Não brinco mais de correr. Não assisto mais os desenhos que gostava. Não tenho mais os meus sonhos. O que eu tenho são marcas.
Essa é só mais uma história de uma criança que teve sua infância roubada. Me doi saber que nesse momento alguém está abusando de um inocente. Em algum lugar, talvez do lado da sua casa, ou quem sabe, dentro da sua casa. Muitos casos são silenciados, muitos abusadores são inocentados,enquanto as vítimas são marcadas pela dor. Disque 100 e denuncie. Procure o Conselho Tutelar da sua cidade.
Essa é só mais uma história de uma criança que teve sua infância roubada. Me doi saber que nesse momento alguém está abusando de um inocente. Em algum lugar, talvez do lado da sua casa, ou quem sabe, dentro da sua casa. Muitos casos são silenciados, muitos abusadores são inocentados,enquanto as vítimas são marcadas pela dor. Disque 100 e denuncie. Procure o Conselho Tutelar da sua cidade.
Postado por Alberis Luís às 22:02 0 comentários
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