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Cosmo imaginário: O conto do esquizofrênico.

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Quando chega à noite e todas as portas se fecham é quando eu saio lá fora e fico parado olhando para o céu como se lá fosse o lugar onde eu deveria estar. Aqui tudo parece complicado, as pessoas são todas iguais, vestem as mesmas marcas,compram as mesmas bebidas e riem da mesma piada. Olhar pra esse céu é como olhar pra mim mesmo diante de um espelho que expõe um corpo e suas mais imperfeitas formas, aqui eu só vejo um corpo e lá do alto consigo enxergar além de mim, uma viagem no meu próprio eu. Todos os dias sigo a mesma rotina, acho que criei um espaço onde só eu posso entrar, deitar e viajar. Na verdade, esse espaço sempre foi meu, único, mal caibo nele, mas é sempre bom estar aqui. Eu não perco meu tempo contando as estrelas, elas são muitas e isso seria demais quando eu posso pular entre as nuvens e conversar com o cosmo.
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O cosmo e eu somos melhores amigos, de vez em quando a gente briga, mas é coisa de amizade, mas eu sempre tenho uma boa história pra contar quando o dia vira noite e chego até às nuvens. Fico triste quando eu não posso sair de casa, o teto cobre meu sonho, minha vontade de rir com meu melhor amigo, os passeios que eu estou deixando de fazer, as histórias que não estou contando, quem poderá contá-las além de mim? Ontem aconteceu algo estranho comigo, acordei no jardim da minha mãe, devo ter caído de alguma nuvem enquanto contava alguma história, devo ter cochilado, não tem outra explicação.
 Como saio de casa e ninguém percebe, ou se percebem nunca se importaram, dormi junto com os sapos porque ninguém sentiu a minha ausência a ponto de, 08:00hs da manhã todos sentados na mesa tomando café e eu ali, com um sapo na minha boca. Que pesadelo! Que gosto ruim que eu senti ao acordar, você já se imaginou comendo um sapo? Passei pela sala e cordialmente desejei um bom dia à todos, corri pra o banheiro e engoli praticamente um sabonete até aquele gosto de sapo saísse da minha boca.

Meu dia era esperar à noite. Esperar que o céu fizesse estrelas e o que os grilos cantassem lá fora. Eu sempre precisei da escuridão. Certo dia eu tava sentado entre as nuvens quando um Sr. se aproximou perto de mim e começou a contar uma história:  

 Desde os 12 anos você saia todos os dias para olhar para o céu,era sua atividade preferida, principalmente à noite quando todos dormiam e as suas portas estavam fechadas. Você conversava com alguém, mas ninguém via esse alguém.Você sorria, parecia estar brincando num park de diversões, parecia estar com um grande amigo, mas lá fora não exista ninguém além de você e os bichos no jardim da sua mãe. Você se afastou do mundo muito cedo, não tinha amigos "reais", e eu devo lhe dizer que sua vida foi um delírio infinito. Você acreditava que estava entre as nuvens com seu melhor amigo, quando na realidade estava sentado ao lado dos sapos que pulavam sobre você enquanto você contava história sobre suas brigas em casa. 
Ninguém te compreendia, sua vida antissocial lhe causou uma depressão profunda, quando você passou a não sair mais do quarto e mesmo assim acreditava que estava no jardim olhando para o céu. Seu fim foi o mais triste. Certo dia, fora de si,você saiu andando pelas ruas à procura de você mesmo,andou pela cidade inteira até prosseguir por uma estrada abandonada que dava de encontro com as montanhas mais altas da cidade. Olhando para o rio que se passava entre as montanhas você viu sua própria imagem distorcida, achando que tinha se encontrado resolveu pular e bateu com a cabeça sobre a pedra. 6 meses depois vieram te encontrar, já estava deformado, sua mãe entrou em desespero por não saber onde você estava e quando soube da sua morte foi como se ela sentisse que algo desse tipo iria acontecer e vive até hoje se culpando por não ter te salvado. 
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 Meu caro amigo,você não teve culpa de estar aqui, talvez eu tenha, fiz muita coisa errada nessa vida,mas você só queria contar suas histórias para o cosmo. A morte nos encontrou. Você deveria estar sentado no jardim da sua mãe, ou comendo seu pastel de queijo numa praça com gente estranha que te fazia sorrir e ao mesmo tempo te trazia medo. Infelizmente, você não era tão "normal", sempre precisou de ajuda mas era incompreendido. Não quiseram entender que você não iera igual aos outros, foi aí que tudo começou, você se perdeu no caminho e encontrou o próprio abismo.
Sobre o Autor:
Alberis Luís Estudante de Psicologia da UNIFAVIP. Poeta nas madrugas, fã de Belchior, Game of Thrones e Fernando Pessoa. Sempre preciso dormir mais do que o necessário, caso contrário, meu humor passa a ser afetado. Frase favorita: "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." Fernando Pessoa.

4 Comentários:

Well disse...

Encontro nas entrelinhas de seu texto uma profundidade assombrosa. Este cosmo imaginário ao qual te referes é parte integrante de inúmeros indivíduos. Sua fala não aborda um único sujeito com o sapo na boca, mas uma sociedade de pensamentos fragmentados e adoecidos. No delírio somos livres porém incompreendidos. De fato só na morte estaremos para além dos rótulos.

Unknown disse...

Achei um texto lindo, poético, sensível, forte... Acredito que muita vezes nos sentimos assim, mas buscamos sair logo dessa "tristeza" pois como eu coloquei a uns textos atrás, não podemos entristecer. Fazendo uma relação com a ultima aula de Teoria da Subjetividade 2, podemos realmente perceber o quanto nossa subjetividade está em crise e estamos sujeitos a sentimentos antes já estabelecidos. Não temos contato ou relação com o fenômeno, mas estamos diante do que foi dito do fenômeno. Fugir disso é ser louco. É ser doente. Mas no final de tudo, os loucos são os mais corajosos e racionais.

Laisse Arruda disse...

Lindo Alberis, parabéns (:

Unknown disse...

Lindo ! É preciso sensibilidade para esta belíssima transmissão, com um olhar belo da subjetividade. Parabéns !!

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